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“VIDAS SEM AFECTO”

“Vidas sem afecto” é uma obra que decorre do entrelaçar de 19 contos, inspirados em outras tantas fotografias.

O livro narra a história de duas mulheres, mãe e filha, que mal se conhecem devido ao desinteresse e egoísmo da primeira, e que acabam por ter percursos de vida completamente desligados, acabando as opções da mãe por ter terríveis consequências para a filha.

Perdido o amor materno, Clara procura desesperadamente saber quem é o pai. Tarefa complexa, que a leva a descobrir uma mãe que confunde amor com sexo. Uma mãe que não sabe amar. Estranhas circunstâncias com que é confrontada começam a apontar pistas sobre quem poderá ser o pai. Contudo, a verdade é difícil de encontrar e nem sempre se quer mostrar. Mas ela persegue-a com a determinação de quem deseja, finalmente, conhecer o amor. Quando não se possui um passado, o que se poderá esperar do futuro?

Um dos primeiros passos para o sucesso do 25 de Abril

Nenhuma operação militar pode ter sucesso, sem contar com uma rede de comunicações bem montada e fiável. Por isso, ao contrário do que muitas pessoas pensam, o 25 de Abril começou uns dias antes, com uma acção pouco conhecida, discreta e eficiente, como é timbre das Transmissões, e reconhecidamente fundamental para o êxito do 25 de Abril.

É sempre muito estimulante ouvir da boca dos participantes nos grandes acontecimentos o relato de como eles se desenvolveram, bem como de alguns episódios ignorados pela grande maioria das pessoas. Foi esse o privilégio que tive, ao escutar o General Pena Madeira, na altura um jovem capitão.

A 20 de Abril de 1974, foi-lhe determinado, pelo então Tenente-Coronel Garcia dos Santos, que estabelecesse a integração na rede telefónica automática militar do Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas, que iria ser montado no Regimento da Pontinha, para que pudesse ficar ligado a todas as unidades do Exército. Analisado o problema, foi decidido que essa incorporação iria ser feita com recurso a um cabo telefónico aéreo de 5 pares, que teria o seu início no Instituto dos Pupilos do Exército e iria percorrer uma distância aproximada de 4,5 km. Trabalho nada fácil, mas que teria de ser feito, e bem, para que não se pusesse em risco o funcionamento eficaz do Posto de Comando, sem o qual as operações do 25 de Abril poderiam estar condenadas ao fracasso.

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Os trabalhos, a cargo da secção de guarda-fios, iniciaram-se ao crepúsculo de segunda-feira, 22 de Abril. Pelas 4 horas da manhã do dia 23, tinha-se conseguido lançar o cabo telefónico até ao Colégio Militar, sendo que a tarefa foi facilitada pelo facto de ter sido apoiado nos postes telefónicos militares já existentes ao longo de todo o percurso. Durante a manhã foram efectuados trabalhos de consolidação, tendo esta primeira fase sido dada como concluída pela hora do almoço do dia 23.

Cerca das 20 horas, deste mesmo dia, foi iniciada a segunda fase de lançamento que iria ligar o Colégio Militar à Pontinha. Nesta fase, tudo se tornou mais complexo, dado não existirem pontos de apoio onde o cabo pudesse ser amarrado. A juntar a estas dificuldades, o tempo galopava. Assim, o cabo foi lançado com recurso à capacidade de improviso que parece ser típica dos militares de Transmissões, passando por postes, esquinas dos prédios e até pela copa das árvores. Acresce que as actividades que estavam a ser executadas tinham carácter secreto e não podiam levantar qualquer suspeita. Para o garantir, chegou-se a partir à pedrada algumas lâmpadas que iluminavam demasiado alguns locais, e que foram repostas depois do 25 de Abril. Mesmo assim, houve um momento de suspense, quando parou uma viatura a certa distância, e dela saíram quatro homens com um aspecto que, ao Capitão Pena Madeira, pareceu ser característico dos agentes da PIDE. Mas não se passou nada de especial e eles abandonaram o local, enquanto os militares retomavam o trabalho.

E às 6 da manhã do dia 24, o cabo telefónico chegaria, como previsto, à porta do Quartel da Pontinha, onde uma pequena equipa procedeu à sua consolidação, seguindo-se ensaios de continuidade nos locais mais importantes, tais como o Quartel-General da Região Militar de Lisboa, os Pupilos do Exército, o Serviço de Telecomunicações Militares em Sapadores e no Posto de Comando na Pontinha.

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Das cinco linhas telefónicas instaladas, duas ficaram ligadas à central automática do Quartel-General, outras duas à central automática da Escola Prática de Transmissões em Sapadores, e a última destinava-se a fazer a ligação ponto-a-ponto entre a sala de operações do Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas e a central automática da Escola Prática de Transmissões, onde iriam ser efectuadas escutas telefónicas, designadamente, às comunicações entre os Ministros da Defesa e do Exército, o Chefe de Estado Maior do Exército e as linhas militares que serviam a PIDE-DGS.

É com um misto de admiração e surpresa que vejo a forma emocionada e sentida como o General Pena Madeira recorda todas estas ocorrências. Parece estar a reviver esses momentos.

Relembra, ainda, o contributo importantíssimo das escutas realizadas para o êxito do 25 de Abril. Por curiosidade, recorda três delas:

A primeira – uma conversa entre os Ministros da Defesa e do Exército – foi interceptada às 03.31h, e nela o primeiro informava o segundo da ida do Presidente da República para Tomar, num momento em que todas as unidades do MFA já estavam fora dos quartéis e a caminho dos seus objectivos.

Na segunda – entre Marcelo Caetano e o General Andrade e Silva, Ministro do Exército, que se encontrava no seu gabinete no Ministério sito no Terreiro do Paço -, o Chefe do Governo questionava: “Então, Sr. General, este é que é o tal movimento sem importância, facilmente controlável?!”. “ Não há problema, Sr. Presidente do Conselho. A situação vai ficar controlada dentro em breve. Já tenho planeado o envolvimento das tropas. Fazemos avançar o Regimento de Cavalaria 7 e uma unidade da GNR. E a fragata Gago Coutinho, que está fundeada em frente ao Terreiro do Paço, estará preparada para bombardear os revoltosos que não se renderem.”

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Foi esta informação que permitiu ao Movimento das Forças Armadas alertar a bateria de artilharia instalada no Cristo Rei e determinar-lhe que a fragata deveria ser bombardeada caso não aderisse ao movimento. O que, felizmente, veio a acontecer. Como todos sabemos, a referida fragata recusou-se a disparar sobre as tropas que já ocupavam o Terreiro do Paço.

Também o Capitão Salgueiro Maia, entretanto informado dos planos do governo, foi ao encontro do Regimento de Cavalaria 7 que, depois de algumas peripécias, desmobilizou já no Terreiro do Paço e passou para o lado do movimento. A GNR acabou retida pela população, pelo que nem chegou ao destino.

A terceira chamada interceptada que Pena Madeira recorda foi a de uma senhora que, com voz autoritária, teimava em falar com o Senhor Brigadeiro do Ministério. Alguém lhe disse que o Sr. Brigadeiro não podia atender. A mulher insistiu vezes sem conta, e já com a voz alterada e irritada, perguntou “ Quem fala daí? Sabe com quem está a falar? Eu sou a mulher do Brigadeiro e exijo que o chame imediatamente!”

Do outro lado, soou uma voz calma e educada, a do capitão Salgueiro Maia, que lhe disse: “Minha senhora, daqui fala o comandante da força do Movimento das Forças Armadas. O que acontece é que o seu marido acaba de fugir com o Senhor Ministro, por um buraco feito na parede, para o Ministério da Marinha.”

Finalmente o General Pena Madeira considerou importante fazer referência aos elementos que também estiveram directamente envolvidos neste processo:

– Tenente-Coronel Garcia dos Santos, Comandante das Transmissões da operação e que apresentou aos dois oficiais do Serviço Telefónico do Exército, o requisito operacional da necessidade de telefones automáticos ligados à rede telefónica militar que foram colocados no Posto de Comando do MFA na Pontinha;

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– Capitão Veríssimo da Cruz que, com ele, foi corresponsável pela organização e concretização das actividades descritas. Desenvolveu uma acção notável dentro do quartel no aliciamento da secção de guarda-fios e do seu chefe;

– Furriel Miliciano Carlos Cedoura que, como chefe da secção de guarda-fios, aceitou executar o trabalho de lançamento do cabo telefónico, apenas sabendo que era urgente e clandestino.

De referir, ainda, que o Capitão Pena Madeira foi o único oficial de Transmissões que na rua acompanhou e colaborou na 1ª operação militar do 25 de Abril, que começou cerca de 3 dias antes, tendo inclusivamente, neste trabalho que se queria secreto, utilizado o seu carro particular como viatura de serviço. Os telefones instalados na Pontinha foram transportados no seu porta-bagagens. Esta participação é praticamente desconhecida, mesmo entre os militares de Transmissões da sua geração. 

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Conheço o General Pena Madeira há muitos anos. É um homem afável, de uma extrema educação, mas o que mais me cativa na sua personalidade é a grande capacidade que tem para contar histórias. Põe nelas uns pós mágicos que as tornam brilhantes e fascinantes, sem nunca alterar a sua autenticidade e veracidade. Prega-nos ao assento de qualquer cadeira e os nossos olhos mal se conseguem desviar do espaço onde relembra as suas experiências. E a magia envolve-nos nas palavras que ele tão bem sabe usar e abusar.

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Estes acontecimentos que antecederam de perto o 25 de Abril, embora desconhecidos da grande maioria da sociedade portuguesa, foram fulcrais e decisivos para o seu sucesso. Contados de viva voz, como me foi dado ouvir, tornam-se momentos muito ricos e arrebatadores, e reforçam, ainda mais, o respeito e admiração devidos aos militares que, naqueles dias, correram riscos e perigos que muitos de nós nem imaginamos.

O Capitão Pena Madeira cumpriu a delicada e temerária missão que lhe tinha sido atribuída, e depois, como é apanágio dos militares, passou ao anonimato.

Obrigada, Senhor General.

Big deal

Acabei de ouvir na televisão que John Travolta de 61anos e Tom Cruise de 52, mantêm uma relação há 30 anos e que até à data nenhum deles ainda se manifestou.

Presumo que, tal como eu, eles se estejam  maribando (não foi nesta palavra que inicialmente pensei!) para a notícia, seja ela verdadeira ou não. Mas, no caso de ela ser verídica, eu, que adoro os dois, só lhes posso dar os parabéns.

30 ANOS?!…É obra!

Só pode mesmo ser Amor!

O pintor de Jazz

Para além de pintar quadros, onde podemos reconhecer algumas importantes figuras do Jazz, Xicofran tem o dom de, também, pintar música.

Quando olhamos para um quadro do “pintor do Jazz”, como ele é conhecido, algo de estranho vibra dentro de nós. Não sei se são as cores, se o movimento por onde os pincéis deslizaram, mas asseguro-vos que todas as suas obras emanam som, numa música que só Xicofran sabe tocar.

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As cores dançam, formando bailados a que os nossos olhos não resistem. O traço leva-nos para além da imaginação, faz-nos ouvir uma melodia que se solta de tudo o que Xicofran pinta. O movimento que ele confere às pinceladas marca-lhe o ritmo. Depois, é só deixarmo-nos levar pela imaginação, para que as notas improvisadas do Jazz comecem a soar dentro de nós.

Como num prenúncio do que viria a ser a sua vida futura, Francisco Fernandes nasceu em terras africanas de Angola, no seio da cultura negra, no ano de 1969, numa década em que a criatividade deste género musical se encontrava no auge com Coltrane, Miles Davis, Chet Baker, Herbie Hancock, entre muitos outros.

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Em garoto, começou por tocar viola. Hoje, ouvimos a sua música através da pintura. E, repito-vos, como é bela a melodia que resulta deste dueto em que ambas, música e pintura, saem triunfantes.

A sua obra é uma orquestra que vai dando corpo a uma espécie de sinfonia que toca a sensibilidade de todos os amantes da arte em que este maestro se move e compõe. E assim vai-nos conduzindo a interpretar, a enternecermo-nos e a apreciarmos as imagens que a sua sensibilidade desenha, em amontoados de tinta que ele vai entornando sobre as telas, tingindo-nos até à alma.

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Xicofran é um homem simples, simpático, afável. Pai de uma menina encantadora, a Francisca, e casado com a porventura única Elga sem H, que se tornou para o artista “a tal”, e com quem ele quis formar família. Uma família maravilhosa.

O seu percurso artístico passou por diversas etapas. Começou pelo curso Superior de Design de Interiores na Escola Superior de Artes Decorativas (ESAD), que terminou em 1994, e onde teve como professora a pintora Dora Iva, que o incentivou então para outros voos. Assim, nesse mesmo ano concorreu ao concurso “Jovem revelação da Amadora”, mesmo sendo de Almada. E ficou logo em 1º lugar. Mas o melhor prémio que recebeu nesse dia, como me confessa, foram aquelas palmadinhas nas costas do Mestre Artur Bual, num estímulo para que continuasse.

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Outro Mestre que conheceu pouco depois, e se tornou numa figura importante no seu percurso, foi António Inverno, que lhe transmitiu importantes conhecimentos, transformando o seu já afinado dom numa Primavera onde floresciam o “equilíbrio das telas e os magníficos pontos de luz”, técnicas que enriqueceram os seus trabalhos. Outro dos nomes mais relevantes com quem se cruzou foi João Moreira Santos, escritor e crítico de Jazz, que o conduziu para o mundo da música, apresentando-o a alguns nomes do Jazz, sendo a cantora Maria Viana um deles. Desde logo, uma grande amizade se cimentou entre os dois, que perdura até hoje numa parceria em que cada um dá o melhor que tem do seu Jazz. Nesta relação artística o facto mais saliente foram as ilustrações que o Xico fez para o livro comemorativo dos trinta anos de carreira da Maria.

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Muito mais haveria para contar sobre o trajecto de Xicofran, mas estas pinceladas já poderão retratar bem o caminho que levou este artista a ser reconhecido como o “pintor de Jazz”, ainda que o seu trabalho envolva outros temas.

Mas o que talvez vocês não saibam é que existiu um outro “Fran” no seu percurso artístico. Uma história deveras engraçada, que ele me confidenciou.

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Há alguns anos, Francisco tinha um amigo de longa data, daqueles amigos inconfundíveis, que são tão nossos que mais parecem irmãos.

Pois bem, esse rapaz, que ainda hoje permanece no rol das suas maiores amizades, chama-se António Pedroso. E de uma conversa entusiasta entre os dois, surgiu a ideia de que seria proveitoso e útil que Xico tivesse um agente que pudesse tratar dos seus assuntos, uma vez que o trabalho tinha duplicado, deixando o artista com pouco espaço para tantos afazeres. Ficou decidido que António seria esse agente, pois em comum, para além da amizade, havia uma enorme cumplicidade e confiança. 

Empolgado, António começou, de imediato, a delinear na sua mente todos as ideias que lhe pareciam interessantes para o projecto que haviam acabado por formalizar, num acordo verbal.

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Nesse mesmo dia, o amigo ligou a Xicofran, empolgadíssimo com as propostas que tinha em mente, mas antes de falar delas, disse-lhe que havia tido a ideia brilhante de arranjar, também para ele próprio, um nome artístico. E que, por isso, passaria a usar, para se apresentar como seu representante, o nome de “Pedrofran”, uma vez que Xico o chamava de Pedro, por culpa do seu apelido.

Xicofran e Pedrofran! Aquilo não soou lá muito bem a Francisco, mas acabou por aceitar, pelo fervor que “Pedro” colocara na questão e pela consideração que ele lhe merecia.

Claro que, mal o amigo começou a usar aquele nome “artístico”, surgiram algumas confusões, por causa da excentricidade do nome, e era comum pensarem que se tratava de dois irmãos, o que fez com que “fran” fosse confundido com um simples apelido familiar.

Esta história deu que falar na altura, e contada hoje por Francisco, soa engraçadíssima. Pedrofran já não é o seu representante, mas continua a fazer parte da vida de Xico, como um dos seus melhores amigos.

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O que não me admira. Porque é muito fácil ser-se amigo deste jovem “pintor de jazz”, que faz da simplicidade, simpatia e boa disposição atributos que nos levam a desejar ficar longas horas na sua companhia.

Fotos tiradas na Galeria CNAP – Clube Nacional de Artes Plásticas

Os deuses na Terra

Estou chocada com o que tenho ouvido nos últimos dias. Existe a cura para a “hepatite C “ mas, o que deveria ser uma excelente notícia, descarrilou e, para não variar, concentramo-nos mais uma vez no dinheiro.

Muito há para se dizer acerca deste assunto, quase tudo politiquices das quais, confesso, estou tão farta e cansada, que recuso a enunciar uma que seja.

Mas apetece-me ser irónica. Constatei que afinal há deuses na Terra e que eles já definiram o valor da vida humana. Começaram nos 48 mil euros e já baixaram para 28. Valeremos assim tão pouco?!

Afinal, onde está o poder? E o direito à vida? Do que precisamos para colocar estes deuses menores na ordem? De um ministro para a saúde, de um maneta ou de um Dr. Richard Kimble?!