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“VIDAS SEM AFECTO”

“Vidas sem afecto” é uma obra que decorre do entrelaçar de 19 contos, inspirados em outras tantas fotografias.

O livro narra a história de duas mulheres, mãe e filha, que mal se conhecem devido ao desinteresse e egoísmo da primeira, e que acabam por ter percursos de vida completamente desligados, acabando as opções da mãe por ter terríveis consequências para a filha.

Perdido o amor materno, Clara procura desesperadamente saber quem é o pai. Tarefa complexa, que a leva a descobrir uma mãe que confunde amor com sexo. Uma mãe que não sabe amar. Estranhas circunstâncias com que é confrontada começam a apontar pistas sobre quem poderá ser o pai. Contudo, a verdade é difícil de encontrar e nem sempre se quer mostrar. Mas ela persegue-a com a determinação de quem deseja, finalmente, conhecer o amor. Quando não se possui um passado, o que se poderá esperar do futuro?

Maria Lua

“De vestido azul anil, sentiu o seu nome, Maria Lua, e tantas que são as Marias na Terra! E a lua sussurrou-lhe, tão baixo que teve de fechar os olhos para a ouvir:

“Tu, Maria, na tua imagem corporal distorcida, cabelos soltos, de asas abertas, intuitiva, que viajas nos sonhos, na emoção, na tua feminilidade e na tua auto percepção da transformação do teu SER, tu, Maria, mulher és inteira e reencontrada.”

Não compreendeu muito bem o que a Lua lhe quis dizer.

Mas gostou de como ela a baptizou, emocionando-a.”

in “Todos os sentidos”

Buraco Negro

“Ao seu redor apenas havia aquela escuridão onde se afundara e, dia após dia, aconchegava-se nela, adaptando-se até a tornar na sua zona de conforto.

Não havia luz que conseguisse penetrar naquelas trevas.

Transformava-se, assim, num verdadeiro buraco negro, do qual nada consegue escapar, nem mesmo a luz. De onde não se pode mais voltar, pois tudo o que acontece num buraco negro fica lá, nas profundezas, em plena escuridão.

Uma verdadeira desordem governava a sua vida.”

In “Todos os Sentidos”

Quando a vida dói

“Tremia na dor, na raiva e foi escorregando lentamente para se desmanchar no chão.

Tudo era irracional.

Dentro de si, os sentimentos, tão antagónicos, mordiam-na numa angústia que lhe parecia ser vitalícia, como um direito que se adquire ou uma doença incurável.

A única coisa que conseguia sentir era aquele frio, do mármore, e uma sensação de irrealidade que a subjugava, como se penetrasse numa quimera, num filme visto ou numa história já contada.

Sentia-se numa auto-estrada, a ser atropelada sucessivamente.

Como sobreviver àquele sofrimento?

Morria de novo.”

In “Todos os sentidos”

Loucos

” Fomos loucos!

Procurávamos as estrelas

e habitávamos a Lua.

Uníamos os nossos lábios

e para testemunhar esse beijo dado só tínhamos, mesmo, a Lua.

E ela é tão silenciosa.

Queríamos ser um só

…e éramos!

Quisemos encontrar o amor

…e encontrámos!

E de lábios colados envelhecemos.

Somos velhinhos.

Mas tão loucos…ainda. “

 

In “Entre o sono e o sonho”